A minha história mais forte é de 2002. Mas
antes de contar sobre a Copa em si eu tenho que falar sobre o ano anterior. Em 2001
minha mãe ficou grávida depois de muito tempo tentando. Era a terceira gravidez
dela, mas a segunda foi interrompida perto dos 9 meses, depois de um erro médico.
A
Amanda não veio, mas a Adrielly estava a caminho.
Certo dia, eu fui numa feira de livros infantis que
acontecia em São José. Nessa feira eu comprei um livro do Corcunda de
Notre-Dame. Quando cheguei na escola que
minha mãe dava aulas vejo que ela recebeu uma ligação e saímos correndo para a
casa da minha avó. Vale lembrar que celulares não eram tão comuns em 2001.
Quando chegamos na casa da minha vó eu vi ela chorando, o
que era muito estranho. Ela disse que meu pai estava no hospital, depois de ter
passado mal. A suspeita inicial era de infarto e eu com 4 anos nem sabia o que
era um infarto.
A rotina mudou completamente. Eu tinha acabado de mudar
para a casa que moro até hoje, mas depois desse episódio passei a viver na casa
da minha avó. Os hospitais não deixavam que crianças visitassem a UTI, por isso
passei aproximadamente um mês sem ver meu pai. A única comunicação que eu tinha
era com gibis da Disney e turma da Mônica que minha mãe dizia que eram enviados
por ele. Acho que ter aprendido a ler bem cedo teve um ponto positivo.
Fiquei tanto tempo sem ver meu pai que achei que ele
realmente tinha morrido e minha família estava mentindo para mim. Não sei qual
foi o acordo que as mulheres (mãe, vó e tias) fizeram, mas consegui ver ele.
Foi um período bem difícil, mas passou.
Meu pai voltou para casa e ficou durante muito tempo se
recuperando. Lembrando que durante todo esse caos a minha mãe estava perto de
ter um bebê.
Minha irmã nasceu um tempo depois, justamente no dia 11 de
setembro de 2001, dia do ataque terrorista ao World Trade Center, as famosas
Torres Gêmeas. Lembro que estava na casa da minha avó e minha tia liga
desesperada falando: “Mãe, liga a TV, os Estados Unidos está explodindo”.
Chegamos em 2002, eu ganho uma camisa de Ronaldo Fenômeno,
com um 9 estampado nas costas. Minha irmã ganhou uma também.
Meus pais decidiram que era melhor não me acordar de
madrugada para ver os jogos, mas ainda assim lembro claramente de ver o jogo
Brasil e Inglaterra, sem lembrar absolutamente nada do dia em si.
Aquela Copa teve Ronaldo, o cara da minha camiseta, fazendo
gol em quase todo jogo, um absurdo. Meu tio, Éder, ia nos fins de semana
assistir alguns jogos lá em casa, uma das memórias é de eu e ele comendo Kinder
ovo em frente à TV e um jogo aleatório passando.
Chegamos na final, minha irmã estava vestida de Brasil, com
pouco menos de um ano. Meu pai já estava muito melhor, mas ainda preocupava, eu
com a camiseta do Ronaldo, minha mãe com uma filmadora na mão.
Corte cascão, o mais clássico das Copas. |
Os dois gols do Fenômeno até hoje me arrepiam, me fazem
ficar muito emocionado. Até hoje ele é o meu maior ídolo no futebol, meu
esporte favorito, meu estilo de vida, a minha expressão cultural mais latente.
Após o jogo, meu pai ignorou o coração safenado e pulou com
a minha irmã no colo. Minha mãe gravava aquilo e eu comemorava achando que Copa
do Mundo era um torneio fácil e que o Brasil ia vencer sempre que quisesse.
Ledo engano. Talvez por ser tão mal- acostumado eu tenha ficado tão triste em
2006, chorando muito com o gol de Henry e o baile de Zidane. Ficar muito bravo
com Felipe Melo em 2010. O 7 a 1 nem se fala.
A época de Copa do Mundo me transforma muito, fico emocionado em todos os jogos do Brasil, mas assisto tudo, tudo
mesmo. Irã e Nigéria que o digam.
Futebol é muito mais que apenas um jogo.
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