domingo, 17 de novembro de 2019

The Irishman – Uma carta de despedida?

Ao assistir The Irishman vários pensamentos passaram pela minha cabeça em relação às escolhas de Scorsese para o filme. Por que usar o rejuvenescimento digital ao invés de escalar novos atores? Por que 3:30h de duração? Por que o mesmo tema novamente?
Tudo isso é respondido, mesmo que de forma interpretativa.

The Irishman conta a história de Frank Sheeran (Robert DeNiro), motorista de caminhão, veterano da II Guerra Mundial que acaba se envolvendo com a máfia para ganhar um dinheiro a mais. Durante essa relação, Sheeran desenvolve uma amizade com Russel Bufalino (Joe Pesci) e por uma escalada de acontecimentos, acaba se tornando próximo do presidente do sindicato dos caminhoneiros dos EUA, Jimmy Hoffa (Al Pacino).



A construção desse filme parte de uma perda progressiva dos limites morais conforme as situações pedem. Se Sheeran começou nos mundo do crime roubando carne, não demora muito para explodir carros e matar pessoas, tudo muito bem construído com tempo. Isso o filme tem de sobra, desenvolve tão bem cada aresta das relações de poder e entre os personagens que o ritmo não cai. As mais de 3 horas de filme são muito justificadas quando todas as cenas possuem uma função, até mesmo para cadenciar o ritmo. Um dos elementos que não deixam acontecer essa queda é a câmera sempre em movimento, acompanhada da trilha, que quando não toca faz muita falta, dando peso para a cena onde é omitida.

As relações de máfia aqui são tão pé no chão que nenhuma cena mirabolante de ação é passada, os tiros são secos, agridem o ouvido do espectador e em nenhum momento usadas para entreter. Há apenas uma sequência que há uma escalada no confronto, mas de resto a batida é agressiva e dolorosa, difícil de ver.
Scorsese pode até mostrar um império sendo construído de maneira que alguns podem querer participar, mas sempre deixa bem claro que os bandidos não se dão bem no final. 
Todos os mafiosos mostrados no filme, quando apresentados  possuem uma ficha de como e quando sofreram uma morte violenta. Os próprios protagonistas chegam em um ponto da vida que o que fazem deixa de ser glamoroso e se torna triste. Todos que cometem crimes perecem de maneira melancólica e solitária, muito diferente da visão trazida em "Coringa", por exemplo, que após cometer crimes o personagem é exaltado.



O filme soa como uma despedida, onde os homens que comandavam o mundo passam a envelhecer e se tornam esquecidos. Uma das cenas mais tocantes do filme é quando Bufalino não consegue mais comer pão com vinho porque não tem mais dentes fortes. Se este for o último filme de Scorsese (tomara que não seja) ele terá se despedido de uma maneira que comenta sua própria vida entorno dos personagens. As auto-referências não são pedantes ou uma mera piscada para o público, mas sim algo que Scorsese gostaria de adicionar ao seu legado, se em outros tempos o crime organizado é retratado de maneira opulenta, aqui é uma classe baixa e suja, que não arma grande planos para tirar alguém do caminho, simplesmente faz.



É aqui que entra a justificativa para o uso da tecnologia de rejuvenescimento. Você precisa ver De Niro e Pesci jovens para que quando olhe para eles velhos sinta o peso do tempo, se fossem outros atores ali não teria o mesmo impacto.
Scorsese lança um de seus melhores filmes da carreira, com 76 anos o maior diretor vivo entrega uma obra definitiva que resume tudo o que já fez em sua filmografia.

domingo, 18 de agosto de 2019

Era uma vez em...Hollywood - A fábula de Tarantino


O 9° filme de Quentin Tarantino chegou com um dos maiores hypes da carreira do diretor, seja por tratar de um tema espinhoso, seja pelo elenco altamente estrelado ou para os mais fãs do diretor a vontade de ver como ele iria desenvolver suas ideias em um tempo tão nostálgico para Tarantino.



O resultado final talvez seja o filme mais singular da carreira do cineasta, baseado em uma longa lista de produções com alto nível de violência, verborrágicos boca-suja. Esse filme chega a ser tocante pelo cuidado com cada elemento em tela que faz das quase 3 horas uma viagem no tempo.

O filme conta sobre a amizade entre Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê, Cliff Booth (Brad Pitt) ao enfrentarem uma decadência de Dalton, enquanto isso a estela em ascensão, Sharon Tate (Margot Robbie) se diverte com a fama.


A história talvez seja a mais convencional do diretor, sem muitas reviravoltas na trama ou recortes temporais que o fizeram tão conhecido e cultuado. O que mais encanta aqui é a simplicidade e as legalzices que o diretor realiza. A polêmica cena de Bruce Lee, tão comentada nas últimas semanas é quase como uma divagação do diretor ao imaginar o seu personagem masculino mais porradeiro em uma luta contra um dos maiores artistas marciais do século XX.



DiCaprio e Pitt são as duas maiores forças do filme, quando eles saem de tela você aguarda ansioso pelo momento em que vão voltar, principalmente Pitt, que protagoniza um dos momentos mais tensos do filme. Se Tarantino prometeu que faria 10° filme e se aposentaria, eu gostaria muito que seu último fosse um terror, baseado na tensão provocada por esse aqui.
Sobre a parte técnica o que chama a atenção são os planos longos e a utilização de uma grua para se afastar dos personagens e mostrar a beleza da cidade ao fundo.

O filme não é lento, mas é longo e soa como inchado em alguns momentos, apesar de ser algo que eu não me incomodei, pode tirar alguns espectadores de sintonia. Tudo que poderia ser tirado em uma edição mais rigorosa se torna válido quando os elementos em cena se apresentam, seja a reconstrução de época ou a maravilhosa trilha sonora diegética, aquela que os personagens escutam junto com o público. Trilha esta que foi retirada do catálogo da rádio KHJ de Los Angeles e reserva um pequeno presente aos que ficarem até o fim dos créditos.

Em seu trabalho mais pessoal e menos agressivo, Tarantino traz algo original, diferente e delicioso de se acompanhar. O diretor se mostrou muito corajoso ao não expor seus rompantes de violência até os últimos 10 minutos de filme, mas quando ele vem é algo de pular da cadeira de tão brutal.



O único momento que o filme acaba fazendo uma escolha que não é tão coerente é no início do terceiro ato, onde surge um salto temporal acompanhado de uma narração em off que tira todo o peso das ações dessa passagem de tempo.
Era Uma Vez em...Hollywood é uma carta de amor de Quentin Tarantino para a Los Angeles que ele cresceu e tanto ama. Talvez homenageando o próprio cinema e a indústria ele consiga seu Oscar de Melhor Diretor, ainda é cedo para falar em premiações, mas esse filme é disparado um dos melhores do ano.

A maravilhosa trilha sonora está disponível em: Once Upon A Time in...Hollywood Soundtrack


quarta-feira, 8 de maio de 2019

Pokémon Detetive Pikachu: nostalgia caça-níquel

Com roteiro pouco inspirado, primeira adaptação em live action dos Pokémons não passa de um filme bobo e inútil



As crianças que nasceram e cresceram nos anos 90 tiveram a cultura Pokémon sempre esteve presente no imaginário coletivo. Seja por brinquedos, desenhos e videogames, porém o recente sucesso do game mobile "Pokémon Go" ativou a nostalgia de milhões e acendeu a paixão de outros milhões espalhados pelo mundo. Sabendo do potencial econômico da propriedade intelectual que possuía nas mãos a Warner Bros decidiu enfim levar aos cinemas a franquia em live action. Por mais que o frenesi causado pelo jogo já tenha passado, a marca ainda é muito forte e rentável no mundo todo, com várias gerações. Um fato curioso é que 90% das cópias lançadas no Brasil são dubladas, algo que surpreende pelo grande número de fãs da franquia serem jovens adultos atualmente.

O filme conta a história de Tim Goodman (Justice Smith de “Jurassic World Reina Ameaçado), um garoto pacato que prefere não ter pokémons por um trauma do passado. Tim é chamado para ir até Ryne City por conta da morte de seu pai, nisso encontra Pikachu (Ryan Reynolds de “Deadpool” na versão original).

O filme encontra problemas logo de cara, o primeiro pelo protagonista, desinteressante e sem personalidade nenhuma. Em dado momento ele conhece Lucy (Katheryn Newton da série “Big Little Lies”), uma estagiária em jornalismo que sozinha é mais inteligente que todo o expediente de polícia da cidade. O humor do filme é bobo e terrivelmente sem graça, não fazendo ninguém rir em uma sala cheia, com o desconto para uma pequena gag do Pikachu recebendo carinho.

Os fãs do universo podem se decepcionar pela falta de espaço dos seus pokémons favoritos, bem como os que teriam um potencial cômico alto são apenas ignorados ou pior, se tornam insuportáveis.

Cheio de conveniências o roteiro é previsível é de fazer revirar de olhos durante quase toda a projeção. Além disso os protagonistas não encontram nenhuma dificuldade em organizar seus planos, pois escritórios de milionários e bases ultra secretas são incrivelmente fáceis de se entrar. Em uma cena chega a ser engraçado involuntariamente, onde Pikachu e Tim se encontram em uma sala e acessam o computador para ver os arquivos de filmagem, onde todos estão corrompidos, a não ser por um, justamente o que eles precisavam para explicar a trama.

O diretor Rob Letterman (do divertido Monstros vs. Aliens) trata mal o espectador em vários momentos, explicando o que literalmente está acontecendo no mesmo instante ou até usando flashback de minutos atrás para mostrar que a única ponte mostrada no filme é a mesma do começo e do final. Se alguém está triste, mostre que esse personagem está triste, não coloque na boca dele a frase “estou triste”.

Tirando algumas cenas de batalha que são divertidas e uma reviravolta específica no final o filme é cansativo e bobo, falhando em introduzir uma franquia tão potencialmente rica nos cinemas.Para um filme que se vende pela nostalgia ele não entrega nenhuma recompensa aos fãs que vão encher as salas. Exemplos recentes como “Power Rangers” e “Jumanji”, que estão longe de serem filmaços, mas resgatam uma boa dose do que poderia ser perfeitamente aplicado aqui. Em uma obra que basicamente se propõe a ser uma dose gigantesca de nostalgia o filme falha e em ser um bom blockbuster falha também.

Não que filmes precisem ser justificáveis na hora de serem feitos, mas Pokémon Detetive Pikachu é apenas inócuo.

Nota: 4/10

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Apostas e Escolhas: Oscar 2019

Podem falar o que quiser, mas eu ainda amo toda a celebração do Oscar. Não perco uma edição da premiação desde meus 12 anos, acompanho todos os outros prêmios, vejo todos os filmes que consigo e não me importo nem um pouco com as pessoas falando que o "Oscar é só políticagem".
Este ano em específico senti que a academia deixou de fora obras muito relevantes e indicou vários filmes medianos, mas nem por isso a lista geral é dispensável. A categoria mais forte nesse ano é disparada a de "Melhor Filme Estrangeiro", que tem pelo menos 3 filmes que eu amei (Roma, Assunto de Família e Cafarnaum). Abaixo os indicados nas principais categorias com meu voto para quem ganha e quem deveria levar.



Melhor Filme
Pantera Negra
Infiltrado na Klan
Bohemian Rhapsody
A Favorita
Green Book: O Guia
Roma
Nasce Uma Estrela
Vice
Quem vence: Roma
Quem merecia: Roma. Apenas fantástico!
Melhor Atriz
Yalitza Aparicio (Roma)
Glenn Close (A Esposa)
Olivia Colman (A Favorita)
Lady Gaga (Nasce Uma Estrela)
Melissa McCarthy (Poderia Me Perdoar?)
Quem vence: Glenn Close
Quem merecia: Olivia Colman. Mostra uma personagem frágil e mimada quando precisa e varia de tom em muitos momentos.
Melhor Ator
Christian Bale (Vice) Favorito
Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)
Willem Dafoe (No Portal da Eternidade)
Rami Malek (Bohemian Rhapsody)
Viggo Mortensen (Green Book: O Guia)
Quem vence: Rami Malek
Quem merecia: Christian Bale. Incorpora voz e personalidade de uma das figuras mais odiadas da história recente americana, muito bem no papel.
Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams (Vice)
Marina De Tavira (Roma)
Regina King (Se a Rua Beale Falasse)
Emma Stone (A Favorita) Favorito
Rachel Weisz (A Favorita)
Quem vence: Regina King
Quem merecia: Emma Stone. Transforma sua personagem na hora que bem entende e faz com que a gente crie empatia por uma pessoa horrível.
Melhor Ator Coadjuvante
Mahershala Ali (Green Book: O Guia)
Adam Driver (Infiltrado na Klan)
Sam Elliott (Nasce uma Estrela)
Richard E. Grant (Poderia Me Perdoar?)
Sam Rockwell (Vice)
Quem vence: Mahershala Ali
Quem merecia: Sam Elliott. Para quem já viu o filme sabe da cena que ele chora dirigindo a camionete, aquilo ali me arrepia até hoje.
Melhor Direção
Spike Lee (Infiltrado na Klan) Favorito
Pawel Pawlikowski (Guerra Fria)
Yorgos Lanthimos (A Favorita)
Alfonso Cuarón (Roma)
Adam McKay (Vice)
Quem vence: Alfonso Curón
Quem merecia: Spike Lee. É um absurdo que um diretor tão importante para a história do cinema não tenha levado um Oscar até hoje. Seria demais vê-lo ganhar.
Melhor Roteiro Original
A Favorita
First Reformed
Green Book: O Guia
Roma
Vice
Quem vence: A Favorita
Quem merecia: First Reformed. Filme não lançado no Brasil traz uma discussão importantíssima sobre o papel da igreja católica na comunidade. Capitalismo e religião em um filmaço!
Melhor Roteiro Adaptado
The Ballad of Buster Scruggs
Infiltrado na Klan
Poderia Me Perdoar?
Se a Rua Beale Falasse
Nasce Uma Estrela
Quem vence: Nasce Uma Estrela
Quem merecia: Infiltrado na Klan. Uma história surreal com linguagem pop e vários conflitos de sua época, demais mesmo.
Melhor AnimaçãoOs Incríveis 2
Ilha de Cachorros
Mirai
Wifi Ralph
Homem-Aranha no Aranhaverso
Quem vence: Homem-Aranha no Aranhaverso
Quem merecia: Homem-Aranha no Aranhaverso. Uma reunião de técnicas, linguagens e texturas que eleva tudo o que já foi feito em animação até hoje. Ainda mais sobre o melhor super-herói de todos os tempos.
Melhor Filme Estrangeiro
Capernaum (Líbano)
Guerra Fria (Polônia)
Never Look Away (Alemanha)
Roma (México)
Shoplifters (Japão)
Quem vence: Roma
Quem merecia: Cafarnaum. Ainda que Roma seja um filme tecnicamente melhor, Cafarnaum é sublime na arte de mostrar a realidade. Esse filme é o mais próximo de um documentário possível, além de ser muito legal Nadine Labaki ganhando um Oscar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Melhores Filmes lançados no Brasil em 2018


No Terror tivemos uma excelente surpresa e arrisco dizer um dos melhores filmes do gênero nos últimos anos, “Hereditário” é simplesmente fantástico. Neste gênero tivemos também o muito bom “Um Lugar Silencioso”, que é uma das melhores experiências cinematográficas que já tive.




Foi um ano particularmente fraco para as Comédias, talvez a melhor comédia que assisti esse ano tenha sido “Deadpool 2”, ao lado de “Lady Bird”, que não necessariamente é uma comédia. “A Noite do Jogo” e “Te Peguei” são dois filmes que são engraçadinhos, porém coloca-los em uma lista de melhores do ano é forçar a barra.

Grandes franquias decepcionaram muito, como Star Wars e o Wizard World. “Solo: Uma História Star Wars” e “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald” são filmes completamente esquecíveis e abaixo de qualquer nota de corte. Falando em decepção, nenhuma é maior que "Bohemian Rhapsody", que roteiro besta e desagradável, a banda é tão maravilhosa que os roteiristas queriam deixar a história ruim e quase conseguiram por inteiro.
Os grandes blockbusters de verão decepcionaram bastante e com exceção dos filmes da Marvel e de “Os Incríveis 2”, não há nada muito relevante. “Missão Impossível: Efeito Fallout” é divertidíssimo, mas com o tempo fui esquecendo do filme, porém um excelente exemplo de blockbuster de ação.

Surpresas excelente foram as produções de novos diretores. Sean Baker já chamou a atenção com “Tangerine”, mas dessa vez lançou o maravilhoso “Projeto Flórida”, bem como a estreia de Bradley Cooper com “Nasce Uma Estrela” e Jon Kasincski com “Um Lugar Silencioso”.

A Netflix lançou muitos filmes ruins, mas também lançou grandes obras que estão na lista dos melhores de 2018. “Aniquilação” do promissor Alex Garland, “22 de julho” do excelente Paul Greengras, bem como o inovador “A Balada de Buster Scruggs”. Tudo isso sem falar do belíssimo “Roma” do sensacional Alfonso Cuarón, que se torna uma marca gigante do catálogo.


Por fim há uma menção especial para dois filmaços que não foram lançados no Brasil e nem se sabe se irão para os cinemas nacionais. Eles são “First Reformed” e “Sorry To Bother You”, este que estaria facilmente na minha lista dos 10 melhores se tivesse sido lançado no país em 2018. Quase nessa levada eu cito “Blindspotting”, que está nas minhas menções honrosas e deveria ter um lançamento maior de que teve, principalmente por ser um filme necessário.


1)      “A Forma da Água”: a melhor fábula da década;

2)      “Hereditário”: subversões e brincadeiras com o gênero fazem desse filme algo especial;

3)      “Projeto Flórida”: o filme mais verdadeiro de 2018, os dias de pessoas que ninguém vê;

4)      “Me Chame Pelo Seu Nome”: uma das histórias de amor mais lindas dos últimos anos, me fez querer morar na Itália, ser trilíngue, bonito e jovem;

5)      “Roma”: filme de fácil identificação e de grande reflexão, só não está mais acima porque evita tocar em assuntos extremamente pertinentes, como a relação entre patrão e empregada;

6)      “O Primeiro Homem”: contar que o homem pisou na lua é fácil, mas mostrar como foi até chegar lá é para poucos. Damien Chazelle fez com maestria;

7)      “Nasce Uma Estrela”: emocionante nos micro detalhes e impressionante no macro, os shows botaram “Bohemian Rhapsody” no chinelo;

8)      “Os Incríveis 2”: como é bom ver personagens que ama tão bem cuidados;

9)      Um Lugar Silencioso”: um dos filmes mais importantes do ano, com um pano de fundo muito curioso e uma execução fantástica

10)   “Você Nunca Realmente Esteve Aqui”: Joaquin Phoenix é um monstro, aliado à uma diretora talentosa fazem uma releitura de Taxi Driver que deixaria Martin Scorsese lisonjeado.

Menções honrosas: "Infiltrado na Klan", “Pantera Negra”, “O Sacrifício do Cervo Sagrado”, “Vingadores: Guerra Infinita”, “Blindspotting”.

Curtiu? Não curtiu? Comente o seu top 10!

terça-feira, 20 de novembro de 2018

O Dia da Consciência Negra no Colégio Estadual Costa Viana


Ao longo do mês de novembro o Colégio Costa Viana promoveu atividades para celebrar a beleza afro e a cultura negra no Brasil

Segundo dados do IBGE o Brasil tem 54% da população que se autodeclara negra, número bem diferente dos apenas 12,5% de comerciais veiculados na tv com negros atuando. Esse dado mostra como ainda há uma barreira na representatividade do negro no país.
Para exaltar a beleza afro o Colégio Costa Viana promoveu o desfile “Garoto e Garota Afro”, que colocou em uma passarela os mais variados tipos de beleza que se encontram nos corredores e salas de aula do colégio. Os vencedores simbólicos representam não apenas uma beleza individual, mas todo um coletivo que se viu representado nessa atividade.
Os vencedores do concurso Garoto e Garota Afro Costa Viana

Isabela da Cruz Lopes, eleita Garota Afro, hoje ostenta lindos cachos, porém não foi sempre assim, ela conta que após sofrer bullying alisou o cabelo, mas conta que foi uma experiência traumática “eu sentia que eu estava tentando ser bonita para os outros, mas depois deixei meu cacho crescer, foi uma libertação e agora eu nunca mais penso em alisar meu cabelo. ”
O Garoto Afro, Carlos Eduardo Cerino Jr. conta que quando tinha 10 anos eu não se considerava negro, mas sim moreno “Os heróis que eu gostava eram brancos, aí eu estudei sobre a cultura negra e encontrei Martin Luther King, Malcom X e Nelson Mandela, para mim eles são os meus grandes heróis. ”. Carlos ainda conta que é influenciado por muitos artistas negros “eu ouço muito soul, blues, jazz e ainda vejo muitos filmes com o Denzel Washington, Will Smith e Marlon Wayans, além do Lázaro Ramos. ”

Isaías Vilela Evangelista, professor do curso de logística conta que teve que vencer vários episódios de racismo, que começaram logo quando era criança, com a professora do primário “ela me falou que eu não ia para frente por causa da minha cor, mas depois de muito tempo eu pude me encontrar com ela de novo, agora com a minha empresa e dando aula, para contar que aquilo que ela disse não aconteceu. ”
O professor, Antônio Flávio Claras, conta que só percebeu que seria tratado diferente e acredita que: “ainda que sejamos um grupo que representa a maioria da população, ainda somos tratados como minoria, isso serve de combustível para a luta, para buscar nossas raízes”.
Por mais que haja uma alta quantidade de negros em São José dos Pinhais o dia da Consciência Negra não é considerado feriado. Isaías afirma que “os negros têm que mostrar a nossa importância e pressioná-los a aceitar essa importância. ”.
Carlos, por sua vez, conta que ouvia de sua vó que o Paraná era muito preconceituoso e acredita que para que essa data seja lembrada cabe uma união dos políticos e do povo “a população negra tem que lutar, ir para a rua e para a câmara para protestar sobre isso. ”. Flávio conta que a data ainda necessita de uma mudança “a gente é maioria e tem que fazer movimentos minoritários, mas antes disso é importante a gente se mexer e superar dessa submissão histórica. A gente tem que fazer valer, todos os dias. ”
Os responsáveis pelo desfile: Vice-Diretor Caio; Professora Marilda; Professora Ana Cristina e "tia" Mara.

Isabela acredita que se trata de uma questão regional e afirma que se hoje não temos um feriado da consciência negra é um reflexo desse racismo “as pessoas têm uma amnésia histórica e esquecem que existimos, a gente se faz presente estando aqui. As pessoas que representam São José não me representam e não ligam se faz parte da minha cultura. Cadê a empatia das pessoas que nos representam? ”
Enquanto isso o dia 20 de novembro continua sem projetos para virar feriado em São José dos Pinhais e a nova bancada da Câmara dos Deputados estadual, eleita no ano de 2018 tem apenas dois candidatos que se autodeclaram pretos.


domingo, 17 de junho de 2018

Minha História com a seleção


A minha história mais forte é de 2002. Mas antes de contar sobre a Copa em si eu tenho que falar sobre o ano anterior. Em 2001 minha mãe ficou grávida depois de muito tempo tentando. Era a terceira gravidez dela, mas a segunda foi interrompida perto dos 9 meses, depois de um erro médico. A Amanda não veio, mas a Adrielly estava a caminho.
Certo dia, eu fui numa feira de livros infantis que acontecia em São José. Nessa feira eu comprei um livro do Corcunda de Notre-Dame. Quando cheguei na escola que minha mãe dava aulas vejo que ela recebeu uma ligação e saímos correndo para a casa da minha avó. Vale lembrar que celulares não eram tão comuns em 2001.
Quando chegamos na casa da minha vó eu vi ela chorando, o que era muito estranho. Ela disse que meu pai estava no hospital, depois de ter passado mal. A suspeita inicial era de infarto e eu com 4 anos nem sabia o que era um infarto.
A rotina mudou completamente. Eu tinha acabado de mudar para a casa que moro até hoje, mas depois desse episódio passei a viver na casa da minha avó. Os hospitais não deixavam que crianças visitassem a UTI, por isso passei aproximadamente um mês sem ver meu pai. A única comunicação que eu tinha era com gibis da Disney e turma da Mônica que minha mãe dizia que eram enviados por ele. Acho que ter aprendido a ler bem cedo teve um ponto positivo.
Fiquei tanto tempo sem ver meu pai que achei que ele realmente tinha morrido e minha família estava mentindo para mim. Não sei qual foi o acordo que as mulheres (mãe, vó e tias) fizeram, mas consegui ver ele.
Foi um período bem difícil, mas passou.
Meu pai voltou para casa e ficou durante muito tempo se recuperando. Lembrando que durante todo esse caos a minha mãe estava perto de ter um bebê.
Minha irmã nasceu um tempo depois, justamente no dia 11 de setembro de 2001, dia do ataque terrorista ao World Trade Center, as famosas Torres Gêmeas. Lembro que estava na casa da minha avó e minha tia liga desesperada falando: “Mãe, liga a TV, os Estados Unidos está explodindo”.
Chegamos em 2002, eu ganho uma camisa de Ronaldo Fenômeno, com um 9 estampado nas costas. Minha irmã ganhou uma também.

Da série: Fotos que só são possíveis no tempo analógico

Meus pais decidiram que era melhor não me acordar de madrugada para ver os jogos, mas ainda assim lembro claramente de ver o jogo Brasil e Inglaterra, sem lembrar absolutamente nada do dia em si.

Aquela Copa teve Ronaldo, o cara da minha camiseta, fazendo gol em quase todo jogo, um absurdo. Meu tio, Éder, ia nos fins de semana assistir alguns jogos lá em casa, uma das memórias é de eu e ele comendo Kinder ovo em frente à TV e um jogo aleatório passando.

Chegamos na final, minha irmã estava vestida de Brasil, com pouco menos de um ano. Meu pai já estava muito melhor, mas ainda preocupava, eu com a camiseta do Ronaldo, minha mãe com uma filmadora na mão.
Corte cascão, o mais clássico das Copas.

Os dois gols do Fenômeno até hoje me arrepiam, me fazem ficar muito emocionado. Até hoje ele é o meu maior ídolo no futebol, meu esporte favorito, meu estilo de vida, a minha expressão cultural mais latente.




Após o jogo, meu pai ignorou o coração safenado e pulou com a minha irmã no colo. Minha mãe gravava aquilo e eu comemorava achando que Copa do Mundo era um torneio fácil e que o Brasil ia vencer sempre que quisesse. Ledo engano. Talvez por ser tão mal- acostumado eu tenha ficado tão triste em 2006, chorando muito com o gol de Henry e o baile de Zidane. Ficar muito bravo com Felipe Melo em 2010. O 7 a 1 nem se fala.

A época de Copa do Mundo me transforma muito, fico emocionado em todos os jogos do Brasil, mas assisto tudo, tudo mesmo. Irã e Nigéria que o digam.

Futebol é muito mais que apenas um jogo.