segunda-feira, 21 de novembro de 2022

2022 - o ano que rompi com o Neymar

Há quatro anos eu escrevi esse texto e por isso não vou explicar tudo o que sinto pela seleção.

Neymar é sem dúvidas a grande figura do futebol brasileiro na última década. Rodeado de expectativas, pedidos de convocação e cercado por jogadores medíocres que viveram o resto da carreira por causa daquele Santos de 2010. Entre a discussão sobre paradinha no pênalti, dancinhas e penteados, Neymar já é o astro da crônica esportiva do país.
Quando ele foi convocado pela primeira para a seleção, por Mano Menezes, o Brasil sentia a esperança de um novo melhor do mundo. Na estreia ele fez gol e começou uma jornada que vai ultrapassar Pelé em número de gols pela seleção.
Neymar conseguiu um feito quase impossível nos dias atuais: ser o astro da seleção jogando no Brasil. Inspirou hits musicais como "eu quero tchu, eu quero tcha", "ousadia e alegria", entre outros.
Foi comprado pelo Barcelona na maior transação da história do futebolista brasileiro, que depois se descobriu ser ainda maior do que a declarada.
Era o responsável por uma das maiores pressões da história do futebol, trazer o Hexa em casa para o Brasil. Na última vez que jogamos uma Copa aqui o trauma foi grande, mas 5 títulos depois somos a maior seleção do mundo e precisamos reafirmar nossa superioridade. O resultado todo mundo já sabe, uma lesão que por milímetros não deixa o jogador paraplégico e o 7 a 1 na semifinal. Talvez com ele em campo o Brasil nem ganhasse a partida, mas o psicológico seria outro e a derrota, com certeza, não seria de 7.

Primeiro jogo original que eu comprei


Em 2015, seu melhor ano, com a conquista da Champions pelo Barcelona e uma lesão de Messi no meio do ano que o tornou dono do time. A primeira indicação ao prêmio de melhor do mundo.

Em 2016, uma série de polêmicas, eliminações traumáticas na Copa América, chegada de Tite e Neymar se preparava para as Olimpíadas, um título menor para o futebol, mas que nunca havíamos ganhado. E o cara ganhou, com direito a gol na final e bater o pênalti decisivo em pleno Maracanã.

Quando ele decidiu comprar a ideia do playground do sheik eu comprei também, tenho camisa, regata e até moletom do PSG, um time que comprou sua grandeza. Eu defendia até esse tipo de atitude. Ali ele teria sua segunda indicação ao prêmio de melhor do mundo, ficando em 3°.
Em 2018 foi a primeira vez que perdemos um título com Neymar em campo e ele jogou bem, mesmo virando chacota no mundo todo por "cair demais", quando foi registrado que ele era o jogador que mais sofria faltas no mundo. As críticas eram de que ele era o culpado por sofrer faltas, o que é uma loucura. Neymar se comportou como um derrotado ao não falar nada depois da eliminação e surgir com uma publicidade pedindo desculpas. Ato patético.


Acusação de estupro, lesão providencial pré-Copa América de 2019 e uma série de polêmicas cercaram o jogador. Eu quase desisti dele na acusação, mas fiquei aliviado quando os processos o absolveram, porque ninguém gosta que seu ídolo cometa um daqueles crimes imperdoáveis.
Neymar chega na final da Champions pelo PSG e acaba perdendo no ano da pandemia. Ali foi o mais próximo que ele chegou de ser o melhor do mundo, porque foi contemporâneo de dois dos maiores de todos os tempos, claramente o terceiro melhor nesse período.
Eis que chega 2022, ano de Copa, onde eu compro camisa da seleção com o nome dele, tenho uma alta expectativa e finalmente Neymar faz algo que me desconecta dele. Eu sempre o defendi, porque Neymar é o moleque que mesmo sendo bilionário leva caixinha de som estourando funk, joga videogame, aproveita a vida tal qual um moleque da minha idade e é reflexo de milhões de jovens da periferia que tem nele um espelho, um alvo para acertar. Muitas das críticas feitas ao jogador carregavam um traço de racismo latente. Com frases como "olha esse cabelo, tem que parar e jogar bola", "tatuagem de cadeia", "Neymar é malandro e o Ganso e menino certo".


Mas Neymar se desconectou com a realidade e apoiou um presidente desumano. Não foram poucos os flertes com Bolsonaro durante os últimos anos, desde uma saudação ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao qual ele chamou de Bibi. O silêncio perante a escolha da Copa América no país em 2021.
Eu não espero uma consciência/posição política de um militante vindo de um jogador de futebol, mas Neymar passou a barreira do apoio, que havia dado a Aécio em 2014, mas fez campanha em live com o excrementíssimo Jair Borsalino.
Entre meu povo e Neymar, existem prioridades humanas que devem estar sempre na frente.
Quando temos LeBron James, Lewis Hamilton e Sadio Mané, não podemos nos contentar em fechar os olhos e passar pano mais uma vez para quem fez campanha para o pior presidente da história.
A minha torcida pela seleção se mantém a mesma, mesmo com ou o roubo da camisa. A diferença é que se o Brasil não precisar de Neymar eu vou ficar mais feliz.